A Ilusão Necessária: A arte como testemunha

By:  Gilbert J. Rose

 

Rumo a uma Psicologia da Arte e do Afeto

 

Essencialmente, este livro é o último de uma trilogia voltada amplamente para uma preocupação específica. Assim como a descoberta e a exploração da “psicopatologia da vida cotidiana” necessariamente desvalorizou sua criatividade silenciosa, a tradicional “abordagem” clínico-psicanalítica sobre a arte, que lhe confere um caráter patológico, faz o mesmo com a criatividade em sentido amplo. Persiste a presunção de que a arte reflete uma luta contra a doença, quase uma autocura.

Deve-se levar em consideração a crítica, vinda em grande parte de fora da psicanálise, de que, por mais verdadeira que seja, ela tanto obscurece quanto ilumina; e é, em última análise, reducionista, pois não nos devolve à obra de arte com uma apreciação mais apurada do que a torna uma obra criativa, ao invés de uma obra comum.

Minha abordagem corrige esse foco.  Estuda, principalmente, a forma estética mais do que o conteúdo. Além disso, vê a sublimação estética como uma evolução dentro de uma teoria da realidade e da percepção mais do que da motivação e da defesa.

Pressupõe que qualquer obra reflete o ego de seu autor fazendo o que qualquer ego saudável faz em seu fazer cotidiano: seleciona de um repertório repleto de funções para se adaptar a uma tarefa atual à luz de experiências passadas. Assim, haverá elementos que são defensivos e adaptativos, regressivos e progressivos, privados e comunicativos. Supõe, também, que a estrutura dinâmica da arte espelha e amplia a mente em ação. Consequentemente, a arte pode ser uma tática para explorar a psique.

 

Assim no artigo, “The Power of Form” (1980) foquei na correspondência entre a forma estética e o processo psíquico, interpretando cada um como envolvendo uma interação entre duas formas diferentes de organizar dados: foco amplo, imaginação total e foco estreito, pensamento e percepção realistas. Isso destacou o papel adaptativo da arte – como o do ego – na ajuda e orientação em termos temporais, espaciais e da identidade em uma realidade instável.

 

A noção de estruturas homólogas entre arte e mente acabou por ser uma redescoberta para mim da ideia fecunda de isomorfismo de Arnheim (1949). Desse modo, num primeiro momento, atraiu-me a ideia de que a interação entre Arte e Mente — baseada em suas estruturas correspondentes — pode ser vista como uma forma de ressonância (Webster: música — vibração suplementar induzida simpaticamente); num segundo momento, de que isso gera ou está associado a correntes de afeto (Trauma and Mastery in Life and Art, 1987).

A arte se sustenta por si mesma – num equilíbrio de forças essencialmente autônomo. Ela também existe em relação dinâmica com a reação de seu público. Explorar as ressonâncias emocionais frente a arte com um olho na teoria contemporânea do afeto e o outro na psicologia não reducionista da arte é nossa estratégia para o momento.

Na discussão que se segue, pouco esforço será feito para distinguir sentimentos enquanto consciência de afeto, afeto como incluindo as mudanças corporais que o acompanham com ou sem consciência, e emoção como uma mistura complexa que inclui memórias e associações pessoais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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